quarta-feira, 3 de junho de 2009

NEOPLASIA

Considerações gerais
Neoplasia, significando formação nova, crescimento novo, representa uma entidade, ou melhor, um grupo de doenças com características anátomo-clínicas peculiares e distintas. De etiologia não totalmente esclarecida, resulta de um tipo anormal de multiplicação celular e crescimento tecidual não controlado, a partir de células normais do próprio organismo, ao qual prejudica.
Não se conhecendo completamente os mecanismos etiopatogênicos de sua formação, torna-se difícil uma definição correta e abrangente. Por isso que existem numerosas definições e outras tantas denominações.
Uma neoplasia pode ser definida simplisticamente como um tecido anormal que prolifera anormal e autonomamente, sem utilidade funcional para o organismo que lhe deu origem. É um tecido porque é constituído por células modificadas, derivadas de uma célula normal e, embora não obrigatoriamente, por um estroma vascularizado, que não é neoplásico. A neoplasia pode ser benigna ou maligna, conforme seu grau de anaplasia, seu comportamento biológico e sua influência na sobrevida do seu portador.
Terminologia
Além de neoplasia, uma denominação muito empregada, podemos encontrar expressões como neoplasma, blastoma, plasmoma e outra menos comuns. Tumor serve para designar todos os crescimentos teciduais anormais, definitivos, inclusive os neoplásicos.Câncer é um termo que se reserva para as formas agressivas, ditas malignas,
de neoplasia.
Classificação
Qualquer agrupamento classificatório deve obedecer a um determinado critério ou conceito, cumprir determinadas finalidades, além de ser simples e informativo.
O desconhecimento de muitos dos fatores ligados à etiopatogenia e à biologia das neoplasias tem dificultado a proposição e a aceitação de uma classificação ideal. Desse modo, as classificações já propostas, como a etiol6gica (incompleta porque há muito ainda para ser esclarecido), a anatômica (puramente regional e repetitiva, tem utilidade didática), a estrutural (basicamente descritiva) e a histogenética (baseada na origem celular do tumor), não foram aceitas integral e isoladamente, restando as classificações ditas combinadas, nas quais são utilizados mais de um critério, geralmente o histológico (tecido básico), associado ao comportamento biológico (benigno ou maligno).


Benignidade e malignidade
Os conceitos de benignidade e de malignidade são baseados em vários critérios, uns clínicos, outros histológicos.
Clinicamente, o prognóstico "quod vitam" (com relação à sobrevida do portador da neoplasia) é o mais importante. Os tumores chamados benignos não comprometem, por si só, a vida do portador, enquanto que os malignos sempre o fazem.
As características histológicas, que definem o grau de anaplasia, como a estrutura desordenada, o modo e o ritmo de crescimento, a capacidade de invasão, as mitoses e a existência ou não de metástases, juntamente com o critério de comprometimento de vida, definirão a neoplasia como benigna ou maligna (ver quadro no final do texto)
Caracteres gerais das neoplasias
Neoplasia é, por definição, um tecido anormal com características muito peculiares.Como qualquer tecido, é composto por um elemento fundamental, a célula neoplásica, e por um estroma conjuntivo vascularizado, que o nutre e sustém. A célula neoplásica e a unidade essencial de um tumor.
A célula neoplásica descende, por transformação, de uma célula normal. É uma célula modificada morfológica e funcionalmente. Exibe alterações de tamanho e forma, nas suas funções especializadas e de vida vegetativa, notadamente a de divisão (mitose), além da aquisição de propriedades novas (capacidade de invasão e de antigenicidade), tudo em grau e intensidade variáveis que, no conjunto, expressam o grau de anaplasia. Tais características são transmitidas definitivamente a todas as células descendentes, que continuam a proliferar continua e autonomamente. Disso resulta um clono de células anormais, origem do tumor primitivo, ou seja, um aglomerado de células anormais, morfológica e funcionalmente semelhantes, sustidas por um estroma vascularizado(não neoplásico) que se constituem no tecido neoplásico que é a doença propriamente dita e contra a qual é dirigida toda a terapêutica.
Dentre os caracteres gerais das neoplasias, distinguimos:
*Proliferação. Condição fundamental para o crescimento. Seja rápida ou lenta, a proliferação é fundamental, pois as células descendentes guardam e utilizam a capacidade de continuar proliferando, sem outro limite que não seja a morte do portador da neoplasia. Por isso que o número de mitoses é maior e, nas neoplasias malignas, são por vezes atípicas.
*Crescimento continuo. Decorre naturalmente da capacidade de proliferação e é tanto mais rápido, quanto mais anaplásico e, portanto, mais maligno for o tumor. Os tumores benignos, menos anaplásicos, tendem a crescer de modo expansivo, enquanto que os malignos o fazem infiltrativamente.

*Autonomia. As neoplasias são autônomas no sentido de que a proliferação foge a qualquer forma de controle por parte do organismo, inclusive no que diz respeito a utilização de quantidade desproporcional de nutrientes (enquanto o organismo fenece, a neoplasia floresce).
*Inutilidade funcional. Diz respeito à falta de propósito biológico não sódas células, mas de suas elaborações eventuais (secreções, p. ex.) que não somente são inúteis, funcionantes ou não, como podem ser altamente lesivas.
*Estrutura desordenada. Distúrbios da polaridade (padrão de ordenação tecidual e celular) já observáveis no tumor benigno e pronunciados nos malignos, constituem uma dos caracteres das neoplasias que se prestam à distinção entre benignidade e malignidade e a gradação do tumor.
*Capacidade de invasão. Mais evidente nos tumores malignos, resulta das características já mencionadas e se faz por expansão ou por infiltração, geralmente ao longo das linhas de menor resistência, planos de clivagem ou utilizando a via vascular sanguínea ou linfática.
*Metástase. Em parte decorrente da capacidade de infiltração, corresponde ao desenvolvimento de lesões secundárias à distância da lesão primária. Formam-se à custa do transporte de células da massa tumoral pela utilização de diversas vias, como sejam, a vascular (linfática ou sanguínea), a transcelônica ou ainda pela implantação. É uma característica exclusiva dos tumores malignos.
*Efeitos dos tumores no organismo. Resumidamente, podemos dizer que os tumores benignos raramente constituem séria ameaça à vida do seu portador. Nisto influem a localização, a capacidade de secretar substâncias ativas (hormônios, p. ex.), o aparecimento de complicações (ulceração, hemorragia). Os malignos têm sempre uma conotação clínica grave, implicando morte do portador, quando seguem sua evolução natural, além de esgotarem caqueticamente o paciente. Deformidade, interferência mecânica e funcional, destruição de tecidos, competição nutritiva e, ainda, distúrbios psíquicos, são alguns dos problemas relacionados com as neoplasias principalmente o câncer.
Etiopatogenia
Apesar do que se conhece de fundamental, ainda há muito para ser esclarecido e, com base na experimentação e epidemiologia clínica, admite-se, atualmente que a transformação de uma célula normal em célula neoplásica ocorra por etapas, basicamente em duas fases principais. Na primeira, denominada iniciação, sob a ação de um agente cancerígeno (e somente um cancerígeno), teríamos a transformação da célula normal numa “célula tumoral latente". Na segunda fase, dita promoção, sob a ação de um agente irritativo (não há necessidade de ser cancerígeno), teríamos a transformação final, definitiva e irreversível da célula latente em "célula neoplásica" (os cancerígenos potentes não exigem agentes promotores). O período de latência entre a iniciação e o aparecimento da célula neoplásica é muito longo (tanto ou mais de 40 anos) e a promoção com um agente irritativo encurtaria esse período.
Os agentes ou fatores capazes de desenvolver uma neoplasia, notadamente as malignas, são agrupados (para fins didáticos) em ambientais ou exógenos (provavelmente responsáveis por mais de 80% das neoplasias humanas) e individuais ou endógenos (que poderiam participar do processo). É necessário portanto, que o estímulo seja adequado e o momento oportuno para que o processo se inicie.
Os agentes cancerígenos conhecidos e reconhecidos como tal, podem ser químicos (hidrocarbonetos policiclicos aromáticos, como o 3.4-Benzopireno, o 1.2.5.6- Benzantraceno, o 20-Metilcolantreno: alguns corantes de anilina (como o O-aminoazotolueno, etc.); podem ser físicos (basicamente as radiações ultravioleta, as radiações ionizantes, como os Raios X, etc.) ou ainda biológicos, com destaque para alguns vírus (Herpesvírus, Retrovírus).
Dentre as condições ditas endógenas, são citados: fator genético (presente em 10% da população), fatores hormonais, fatores imunológicos (deficiência da vigilância imunológica), idade e sexo.
É antiga a idéia de que o câncer pudesse ser causado por alterações genéticas e expressão de alguns gens, denominados oncogens que poderiam ser responsáveis pelo aparecimento de neoplasias. Os oncogens (objeto de recentes pesquisas) são gens com comprovada associação com câncer, e também relacionados ou derivados com gens, protooncogens, particularmente implicados com os fenômenos de regulação e proliferação celular.
Do exposto, admite-se atualmente que os tumores resultam de agressões ambientais (químicos, físicos e notadamente alguns vírus) em indivíduos geneticamente suscetíveis.

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